domingo, 4 de julho de 2021

EDITAL DE CONVOCAÇÃO (RETIFICA E ADITA O EDITAL DE 25.06.2021) ASSEMBLEIA GERAL PARA FUNDAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO QUE CONGREGUE INTERESSES COMUNS DE MORADORES QUILOMBOLAS DA COMUNIDADE DA ILHA REDOND

 EDITAL DE CONVOCAÇÃO

(RETIFICA E ADITA O EDITAL DE 25.06.2021)



ASSEMBLEIA GERAL PARA FUNDAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO QUE CONGREGUE INTERESSES COMUNS DE MORADORES  QUILOMBOLAS DA COMUNIDADE DA ILHA REDONDA



A Coordenação da CONAQ-AP, em cumprimento ao disposto nos incisos I, II e III, do artigo 1º, c/c as alíneas “b”, “d” e “e” do artigo 6º, do Estatuto da CONAQ-AP, e ainda, em conformidade com o acordado na reunião no dia 20.06.2021, da qual participaram pessoas Comunitárias que se auto definem como Quilombolas e que residem na Comunidade Remanescente de Quilombo da Ilha Redonda, e considerando o Decreto Municipal n. 4.030/2021-PMM de Restrição a Proliferação do novo coronavírus - COVID-19, CONVOCA todas as pessoas, residentes desta Comunidade Quilombola (Ilha Redonda), que a este vierem ou, dele tomarem conhecimento, interessadas para participarem por videoconferência, na qualidade de sócio fundador, da Assembleia Geral de Fundação de uma Associação, dita Quilombola, que congregue os interesses comuns dos moradores, residentes, que integram toda a cadeia produtiva rural na Comunidade Ilha Redonda localizada no município de Macapá. 

Ficam desde já cientes os membros que participarão da Assembleia Geral que a reunião será gravada em sua integra e, posteriormente, resumida e consignada em ata, a ser lavrada pelo secretaria da plenária. Na impossibilidade de gravação da referida Assembleia por algum imprevisto técnico (pane), haverá captura de tela da Assembleia em foco e registros físicos dos assuntos nela tratados.  

Será obrigatória a transmissão da imagem da pessoa comunitária, por câmera de vídeo aberta, durante sua permanência ou quando necessário para registro na sala de realização da assembléia, logo, no credenciamento in-loco, autoriza o uso da sua imagem para o fim da conferência.

A abertura da reunião se dará após verificação de presença, das pessoas comunitárias credenciadas, a qual se comprovará por meio da captura (imagem) da tela de videoconferência.

O presente edital sobrepõe-se ao Edital de Convocação, de 25.06.2021, vez que o nele contido não pode ser concretizado, mediante a proibição de realização de aglomerações, como medida de contenção da pandemia causada pela Covid-19.

As decisões tomadas em votação aberta ocorrerá pela realização de sufrágio de modo nominal

A ata da reunião registrará o número total de votos e a matéria aprovada será formalizada por decisão em ato explicativo.

A Plenária se reunirá no dia 04 de julho de 2021, extraordinariamente, por videoconferência, conforme a autorização legal, utilizando-se para tanto o software da Plataforma Zoom, com link de acesso a ser enviado pela Coordenação 15 minutos antes do inicio da primeira convocação via WhatsApp n. (061) 99630.0834, após Credenciamento realizado in-loco com os residentes da Comunidade que desejarem participar da referida Assembleia de Fundação de uma Associação,dita Quilombola com primeira convocação às 15 horas e 30 minutos, ou na falta de quórum necessário, em segunda convocação às 16 horas com qualquer número das pessoas credenciadas interessadas em participar por videoconferência da referida Assembleia Geral de Fundação de uma Associação, já citada no preâmbulo deste, para, em plenária, deliberar sobre a seguinte Pauta: 


1. Expediente:

    a) palavra dos idealizadores;

    b) palavra da comissão organizadora convidada.

2. Ordem do dia

    a) fundação de uma Associação com finalidade Quilombola na Comunidade;

    b) apresentação e aprovação, do Estatuto Social;

    c) eleição, em chapa fechada, da Governança Social na forma do Estatuto Social;

    d) posse dos eleitos;

    e) pronunciamento dos eleitos.

3. Encerramento.


Para compor chapas é obrigatório atender, concomitantemente, a todos os critérios, a seguir enumerados, definidos na reunião prévia citada no preâmbulo deste:

    1 -    ter idade igual ou superior a 18 anos na data da Plenária;

    2 -    ser moradora(dor)/residentes na/da Comunidade Ilha Redonda; 

    3 -    formar as chapas, em conformidade com o Estatuto Social aprovado e, na mesma Plenária após instalação do processo eleitoral, apresentar requerimento, por escrito, à Mesa Coordenadora dos trabalhos fundacionais, via WhatsApp n. (061) 99630.0834; 

    4 -    assinar fisicamente após os encerramento dos trabalhos em videoconferência, os atos de nomeação e de posse do Corpo Diretivo para o mandato na forma do Estatuto Social.

    ESTE EDITAL TERÁ AMPLA DIVULGAÇÃO NOS MEIOS COMUNICAÇÃO VIRTUAIS   HTTP://QUILOMBOLASDOAMAPA.BLOGSPOT.COM/P/RELACAO-DE-COMUNIDADES-QUILOMBOLAS-DO.HTML, PÁGINAS DO FACEBOOK QUILOMBOLASDOAMAPA/CONAQ.AP


Em Macapá-AP, 03 de junho de 2021.





JANE SELMA DE ALMEIDA

Assessoria Jurídica




segunda-feira, 28 de junho de 2021

Edital de convocação

ASSEMBLEIA GERAL PARA FUNDAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO QUE CONGREGUE INTERESSES COMUNS DE MORADORES DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DA ILHA REDONDA

 EDITAL DE CONVOCAÇÃO

(RETIFICADOR DO EDITAL DE 20.06.2021)



ASSEMBLEIA GERAL PARA FUNDAÇÃO DE ASSOCIAÇÃO QUE CONGREGUE INTERESSES COMUNS DE MORADORES DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DA ILHA REDONDA



A Coordenadora Geral da CONAQ-AP, em cumprimento ao disposto nos incisos I, II e III, do artigo 1º, c/c as alíneas “b”, “d” e “e” do artigo 6º, do Estatuto da CONAQ-AP, e ainda, em conformidade com o acordado na reunião no dia 20.06.2021, da qual participaram pessoas que se auto definem como Quilombolas e que residem da Comunidade Remanescente de Quilombo da Ilha Redonda, CONVOCA todas as pessoas, residentes desta Comunidade Quilombola (Ilha Redonda), que a este vierem ou, dele tomarem conhecimento, interessadas para participarem, na qualidade de sócio fundador, da Assembleia Geral de Fundação de uma Associação, dita Quilombola, que congregue os interesses comuns dos moradores, residentes, que integram toda a cadeia produtiva rural da Comunidade Ilha Redonda localizada no município de Macapá. A Plenária se reunirá no dia 04 de julho de 2021, às 15 horas e 30 minutos, em primeira chamada e, às 16 horas, em segunda chamada com qualquer número de participantes. O local da Assembleia será à margem esquerda da BR 210, no km 13.

A Assembleia Geral terá como pauta a discussão e votação do Estatuto Social da Associação e, Ato Contínuo, a eleição do Corpo Diretivo e, consequentemente, a posse para o primeiro mandato. Para compor chapas é obrigatório atender, concomitantemente, a todos os critérios, a seguir enumerados, definidos na reunião prévia citada no preâmbulo deste:

    1 -    ter idade igual ou superior a 18 anos na data da Plenária;

    2 -    ser moradora(dor)/residentes na/da Comunidade Ilha Redonda; 

    3 -    formar as chapas, em conformidade com o Estatuto Social aprovado e, na mesma Plenária após instalação do processo eleitoral, apresentar requerimento, por escrito, à Mesa Coordenadora dos trabalhos fundacionais; 

    4 -    assinar os atos de nomeação e de posse do Corpo Diretivo para o mandato na forma do Estatuto Social.

    ESTE EDITAL TERÁ AMPLA DIVULGAÇÃO NOS MEIOS COMUNICAÇÃO VIRTUAIS   HTTP://QUILOMBOLASDOAMAPA.BLOGSPOT.COM/P/RELACAO-DE-COMUNIDADES-QUILOMBOLAS-DO.HTML, PÁGINAS DO FACEBOOK QUILOMBOLASDOAMAPA/CONAQ.AP


Em Macapá-AP, 25 de junho de 2021.


NÚBIA DE SOUZA

Presidente da Comissão Organizadora



JANE SELMA DE ALMEIDA

Assessoria Jurídica



LUIZEL SIMÕES DE BRITO

Assessoria Técnica

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Adeus Merezão eterno guerreiro

   
MOÇÃO DE PESAR

   Pelo presente, solicito aos quilombolas do Brasil e do Amapá, e, dispensadas as demais formalidades, que seja recebida, nossa mais profunda MOÇÃO DE PESAR, aos familiares do Senhor EDIVALDO AZEVEDO DE SOUZA, NOSSO ETERNO “MEREZÃO”, falecido no dia 03.12.2018.
  Pessoa que lutou junto com suas comunidades e como dizia seus parentes de movimento negro e sua família na busca de melhores condições de vida e dignidade, deixou para com aqueles que tiveram o prazer de conhecê-lo exemplo de confiança e respeito, cumprindo todos seus afazeres possíveis perante aos seus, resta-nos juntamente com os seus familiares e amigos a oração e a certeza de que Deus Pai acolheu mais um filho.
Merezão, leve contigo as nossas saudações Quilombolas!
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
 meu Brasil brasileiro
Meu grande terreiro, meu berço e nação
Zumbi protetor, guardião padroeiro
Mandai a alforria pro meu coração

Macapá, Amapá, Brasil 03 de Dezembro de 2018. 
 

sábado, 28 de julho de 2018

Comunidade do Kulumbu do Patuazinho



COMUNIDADE KULUMBU DO PATUAZINHO



HISTÓRICO



LOCALIZAÇÃO E HISTÓRIA.

Temos o orgulho de ser a comunidade quilombola de onde começa o Brasil*.

A comunidade do Kulumbu do Patuazinho está localizada no Município de Oiapoque, com acesso pela BR 156, km 672. Seu o nome deriva da denominação do córrego que serve de porta de entrada para a comunidade, com uma pequena modificação ou simplificação, pois ele é identificado como córrego do Patauazinho. Além disso, o mesmo nome também evoca uma comida típica feita pelos negros da Guiana Francesa, que mantiveram e ainda mantêm forte relação com a comunidade, o “kulumbu”. Com aproximadamente vinte anos de existência, Kulumbu do Patuazinho é o primeiro quilombo amapaense que se iniciou como quilombo urbano.

Fotos 1 - Acesso à comunidade. Ponte sobre o córrego Casas da comunidade


Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

O processo de instalação da comunidade começa com a chegada do seu fundador, Pai Benedito, de nome Benedito Anunciação. Ele veio do Maranhão com o intuito de encontrar em uma área de convívio para sua família. Depois de algumas tentativas de moradia em lugares diferentes no Estado do Amapá, a comunidade se instalou em uma área de mata próxima à cidade de Oiapoque. Nessas terras, os moradores se estabeleceram devido ao “casamento” da relação entre a natureza e as práticas religiosas da comunidade. Assim, outras famílias foram chegando e agregando-se na comunidade. 

Kulumbu do Patuazinho possui moradores dentro e fora do local da mata. Fora da mata, o aumento da cidade já lhe conferiu status de bairro, o que gera conflitos acerca do território. Na área fora da mata, que é delimitada por ruas e quarteirões, existe forte especulação imobiliária. Ali estão a escola da comunidade, o campo de futebol e outras áreas de uso comum.

Foto 2 - Expansão urbana na área do quilombo.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Nos últimos anos, com a especulação imobiliária, o espaço do quilombo quase deixou de existir. Ele foi englobado por loteamentos desenvolvidos pela prefeitura do Município de Oiapoque. Contudo, com a formação de novas famílias – basicamente, dos filhos e netos das primeiras a se reunirem na área –, começou o processo de retomada do território. Sem condições de manter uma moradia no centro da cidade de Oiapoque, os “filhos da comunidade” tiveram, por necessidade, que residir nas terras do quilombo. Então, algumas novas casas estão sendo construídas, o que, segundo alguns informantes, fortalece a das pessoas permanência naquelas terras.

Foto 3 - Três gerações da comunidade.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

As ações empreendidas, a fim de que a comunidade adquirisse a titulação de quilombo, são avaliadas como positivas pelos moradores, para que se não perdessem suas terras à especulação imobiliária. Por outro lado, os moradores entendem que essa titulação aumentou o poder de articulação junto aos órgãos públicos.

Foto 4 - Dona Maria Assunção, moradora mais antiga da comunidade, recebendo em 2010 a Certificação de Comunidade Remanescente de Quilombo emitido pela Fundação Palmares.

Fonte: Acervo de Manoel Azevedo.

A comunidade não tem associação de moradores, mas faz suas reuniões na Federação de Cultos de Matriz Africana Umbanda Candomblé Nina Nagô, do Município do Oiapoque. Responde pela federação o líder do grupo, pai Benedito. Desde a organização da federação e do reconhecimento como Comunidade Remanescente de Quilombo, diversos projetos e objetivos voltados para a preservação e a divulgação da cultura da comunidade foram traçados pelos moradores e por outras entidades voltadas para as questões quilombolas do Amapá. Dentre esses projetos, destacam-se os seguintes objetivos: tornar o local um ponto turístico e poder receber a visitação de grupos, principalmente de amapaenses e guianenses; ter um espaço que possa abrigar o patrimônio material e que conserve a história das primeiras famílias, a produção de artesanato, além de outros projetos, que sempre estiveram nas expectativas da comunidade. Mas nada de concreto foi realizado até o hoje para que tais objetivos se tornassem realidade.

* Fala do líder da comunidade – Benedito Anunciação ou Pai Benedito, como ele se apresenta –, fazendo referência à localização do quilombo no Município de Oiapoque, que, segundo dados históricos e geográficos, é “onde começa o Brasil”.

CONDIÇÕES DE VIDA

A situação da comunidade do Kulumbu do Patuazinho, assim como da maioria das comunidades quilombolas do Amapá, gira em torno da necessidade de permanência na terra, com direito à titulação. Outra característica marcante é a precariedade do acesso aos bens públicos, com destaque para saúde, educação e saneamento básico. No momento da pesquisa, foram identificadas aproximadamente 57 famílias*, dentro e fora da mata. Dentre essas famílias, foi aplicado questionário socioeconômico a 22 de seus representantes.

Sua condição de comunidade quilombola urbana lhe atribui algumas especificidades. A principal atividade econômica, por exemplo, são os serviços fora da comunidade, principalmente “bicos” ou trabalhos eventuais, presente no Gráfico 2. Pelas entrevistas, foi possível identificar que o garimpo e a construção civil também são ocupações comuns.

Gráfico 1 – Principal ocupação profissional.

fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

O cultivo da terra e de outras formas de produção, como a avicultura – que ainda se faz presente, mas com pequena representação – aponta para a subsistência como fator principal das referidas produções. O uso da terra se divide entre lotes coletivos e de famílias. As roças ficam distantes das casas, sendo que os produtos mais cultivados são a mandioca, para a produção da farinha, e as hortaliças.

Foto 5 - Produção agrícola da comunidade.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Além das atividades produtivas acima citadas, a comunidade também produz, dentre outros, óleos extraídos do buriti e da andiroba. Outro aspecto é a confecção de artesanato, realizada por indígenas que moram na comunidade.

A renda dos moradores, dentre os entrevistados, se concentra em até um salário mínimo. Entre um e dois mínimos foram identificados apenas 04 dos 20 respondentes, e somente 02 declararam renda entre dois a três salários mínimos.

Gráfico 2 – Renda e ocupação profissional.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

A renda dos moradores é complementada pelos programas sociais. Dentre os respondentes, metade está inserida em programas sociais de governo, como: Bolsa Família, Renda para Viver Melhor e Fome Zero. Vale ressaltar que na mesma casa convivem mais de uma família nuclear (pai, mãe e filho), o que justifica a declaração de mais de um benefício na mesma família. 

Gráfico 3 - Benefícios sociais.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Quanto à escolaridade, dentre os entrevistados, a concentração acontece no Ensino Fundamental incompleto. Nos extremos, temos 03 moradores que não frequentaram a escola e 01 com nível superior, que é servidor público. Somados os que não frequentaram a escola e os que têm o fundamental incompleto, chega-se a 15 pessoas, das 20 entrevistadas, apontando um baixo nível de escolarização entre os comunitários.

Gráfico 4 – Escolaridade e ocupação profissional.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Considerando a renda dos moradores da comunidade, buscou-se identificar os bens móveis que os comunitários possuem para seus deslocamentos, e o resultado foi que, entre os entrevistados, 01 respondente que tem renda de um a dois salários mínimos possui moto; outro de renda entre dois a três salários possui carro. A bicicleta é o bem mais comum, presente em todas as faixas de renda com concentração na primeira.

Gráfico 5 – Bens móveis e renda.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Ainda considerando a renda e a posse de equipamentos domésticos úteis para sobrevivência e qualidade de vida, verificou-se que, entre os entrevistados que ganham até um salário mínimo, a maioria possui fogão, televisão e ventilador. Entre os que ganham entre um e dois salários mínimos, todos possuem geladeira, fogão e televisão. Na faixa de renda de dois a três salários mínimos, os bens mais comuns são geladeira, fogão, televisão e aparelho de DVD.

Gráfico 6 – Renda e Bens domésticos.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

A comunidade não possui posto de saúde, sendo necessário recorrer ao hospital de Oiapoque e, em casos mais graves, recorre-se ao hospital de Macapá. As enfermidades mais comuns na comunidade estão demonstradas no gráfico a seguir:

Gráfico 7 - Principais doenças.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Em Kulumbu do Patuazinho, o prédio da escola está desativado e não há professores. Para ter acesso à educação, o aluno precisa fazer o deslocamento até o centro do Oiapoque. Esse deslocamento, na maioria das vezes, é feito a pé, visto que não existe transporte escolar que atenda à comunidade.

A maioria das residências possui energia elétrica fornecida pela Companhia Elétrica do Amapá, e apenas uma minoria declarou o uso de gerador. A água para consumo é proveniente de poços, principalmente, rudimentares ou amazonas. Não há saneamento básico e os dejetos sanitários, segundo os respondentes, são, na maioria das casas, descartados no ambiente. A minoria utiliza as fossas para depósito dos dejetos. O lixo é recolhido pelo caminhão da prefeitura do Oiapoque.

Gráfico 8 – Destino dos dejetos sanitários e lixo.

onte: Pesquisa de campo, 2013.

As construções das moradias, em sua maioria, são em madeira e em terreno próprio. Existe um número significativo de casas feitas de lona e plástico, identificadas como “Outro” no gráfico. A comunidade aguarda a construção de algumas casas pelo programa federal Minha Casa Minha Vida**, o que possibilitará a melhoria das condições habitacionais.

Gráfico 9 - Propriedade da moradia e material de construção.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Na maioria das casas dos entrevistados, os banheiros eram externos, feitos de madeira. Um número significativo declarou não ter banheiro e utilizar os serviços de outros moradores. Apenas 05 declaram possuir banheiros internos à moradia.

Gráfico 10 – Banheiros das moradias.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013.

Apesar de sua localização no perímetro urbano do Município de Oiapoque, a comunidade sofre com a falta de infraestrutura básica, o que inclui desde saneamento básico, construção irregular das moradias e ruas sem pavimentação até a falta de iluminação nas ruas. Há uma constante cobrança ao poder publico por políticas que garantam a permanência dos moradores naquele lugar.

* No enfoque adotado na pesquisa, é contado o grupo de familiares que residem em uma mesma casa. Nesse caso, é comum encontrar uma parentela que se estende dos pais até seus netos e/ou bisnetos, genros e/ou noras, e assim por diante, o que caracterizamos como família extensa.
** O Minha Casa Minha Vida é um programa do Governo Federal em parceria com os Estados e os Municípios, sendo gerido pelo Ministério das Cidades e operacionalizado pelo sistema bancário da Caixa Econômica Federal. O programa tem por objetivo a produção de unidades habitacionais, que, ao serem concluídas, serão vendidas sem arrendamento prévio às famílias que possuem renda familiar mensal de até R$ 1.395,00. 

PATRIMONIO CULTURAL

Kulumbu do Patuazinho apresenta um rico patrimônio cultural que ainda é pouco conhecido fora da comunidade. Um dos pontos que mais chama a atenção, nos relatos apresentados pela comunidade, é a relação que eles mantêm com a natureza, seja nos relatos situados num passado distante, ou mesmo no presente – uma demonstração de que a natureza é um dos elementos identitários fundamentais a nortear a trajetória da comunidade.

A região de mata oferece a simbologia necessária para que o pai de santo e líder da comunidade, Benedito Anunciação, receba a entidade “Pai Mariano”, que pratica suas curas e aconselhamentos espirituais. As árvores, como a sumaúma*, são o centro de referência dessas práticas.

Foto 6 - Pai Benedito que recebe a entidade Pai Mariano.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

A área que a comunidade possui abrange uma parte de mata fechada. Há ainda uma parte pantanosa, e outra que é de campo, que a comunidade utiliza para o plantio. Toda a região é preservada, sendo cuidada com finalidades religiosas e espirituais, e não apenas por preocupações ambientais.

Vale ressaltar a importância do “Pai Mariano”, que aconselhou a comunidade a construir as moradias perto do córrego Patauazinho, em volta de uma sumaúma de porte grande. Essa árvore, segundo os relatos, estava fraca e quase morrendo e precisava de cuidados. Ela representa a cultura da comunidade, que também estava fraca e precisava de um potente elo. Dessa forma, a árvore e a comunidade se complementam.

Foto 7 - A sumaumeira de dentro do quilombo.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

A construção das casas foi primeiramente em outro local na mata, assim como a igreja e o templo religioso, onde são guardadas as imagens dos orixás. Mas foi somente quando a comunidade se organizou em volta da sumaúma que ela se solidificou, segundo Pai Benedito.

Em volta da sumaúma estão construídos, com diferentes tipos de materiais, a igreja, o templo religioso e as moradias; e no centro, um espaço com bancos para a recepção de pessoas e para o lazer dos moradores. A árvore contém nomes de pessoas que voltam na comunidade quando têm seu pedido, feito ao Pai Mariano e aos orixás, atendido.

Foto 8 - Casas construídas na floresta do quilombo. 

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Existe um misto da cultura indígena amazônica com a cultura afro-brasileira, que se consolidou com o casamento de Pai Benedito com uma indígena. Dessa relação foram agregados outros patrimônios materiais, como a confecção de artesanato (já citado) com materiais da natureza, como sementes, penas de aves e dentes de animais.

Foto 9 - Mulher indígena do quilombo produzindo artesanato.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Em torno da liderança religiosa de Pai Benedito, os moradores se organizam e se interligam através dos rituais e das festas. A religião candomblé e o Batuque são os patrimônios da comunidade, já trazidos pelos moradores do Maranhão e aperfeiçoados em Kulumbu do Patuazinho, adquirindo novos contornos com o intercâmbio com a cultura indígena, com os negros da Guiana Francesa e com outros fatores que se associam ao cotidiano da comunidade.

Foto 10 - Momentos do Candomblé na comunidade.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

A confecção dos instrumentos do Batuque é feita na comunidade, e na mata é selecionado “o toco” – tronco de árvore já danificado, para ser esculpido e transformado em tambor. Perto da sumaúma, no centro da comunidade, existem os apetrechos utilizados para esticar o couro de gado utilizado para cobrir o tambor, o que é feito ao fogo.

Foto 11 - Construção artesanal do tambor. Tambor sendo aquecido ao fogo

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

No entorno da sumaúma, encontram-se vários símbolos que representam códigos religiosos. A igreja se torna, quando preciso, um espaço para dançar o Batuque, principalmente quando há convidados. Nos relatos da comunidade, quando estão só moradores, o Batuque é feito a céu aberto com os pés descalços perto da sumaúma.

A comunidade festeja São Jorge em agosto. Sua festa reúne os aspectos da religião católica com os da umbanda. Muitos convidados de fora da comunidade trazem bebidas como presente. A maior parte pessoas que trazem os presentes foi agraciada com atendimento dos pedidos feitos ao Pai Mariano. Infelizmente, dado o período da pesquisa, não nos foi possível acompanhar a festa. 

Tanto para a festa como para o atendimento espiritual com o líder da comunidade é, segundo relatos, forte a presença de negros da Guiana Francesa no quilombo. Eles trocam favores religiosos e realizam juntos algumas cerimônias e festas. Ao lado da casa de Pai Benedito, como um anexo, há um quarto feito de taipa para acomodar os visitantes**, que se dirigem ao quilombo para solicitar seus serviços religiosos.

Foto 12 - Celebração na Igreja de São Jorge dentro da comunidade.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2013.

Outro patrimônio material a mencionar são algumas casas de taipa (barro), localizadas na área de floresta do quilombo, utilizando apenas produtos naturais, o que representa uma marca identitária, pois, segundo Melquíades Júnior, a “casa de taipa, ou de pau-a-pique, feita de barro e madeira, atravessa milênios, permeia culturas, e mais do que uma imposição social nos dias atuais, é sinal de liberdade criadora do lar próprio, numa intensa relação entre o ser humano e a natureza que o cerca.”***

Foto 13 – Casa de taipa da comunidade.

Fonte: Pesquisa de campo, 2013. 

Outro saber muito importante preservado pela comunidade, que garante o alimento de algumas famílias, é a extração dos frutos do açaí nas palmeiras e seu manuseio para transformá-lo em um líquido espesso. A extração é realizada em pés de açaí, que estão dentro da área do quilombo. Para saber onde existem os pés, os moradores saem em busca de reconhecimento prévio do território, ou ainda buscam conhecimento com os mais antigos. Da mesma forma, é realizada a passagem de conhecimento das mudas que produzem mais frutos e das que produzem os melhores grãos. Tais ações despertam nos moradores a necessidade de preservação da natureza para manter sustentáveis suas atividades econômicas de subsistência. 

Os membros da comunidade do Kulumbu do Patuazinho possuem a necessidade de valorizar sua própria cultura, como forma de resistência à forte presença da sociedade urbana e de consumo no seu entorno. Percebemos um movimento de afirmação e preservação da própria cultura, provavelmente na tentativa de impedir que as tradições da referida comunidade se percam.

Kulumbu do Patuazinho diferencia-se do cenário das demais comunidades quilombolas do Amapá, muito por conta de sua forte tradição religiosa de matriz africana e pela hibridez de sua formação cultural. Apesar dos precursores da comunidade terem vindo do Maranhão, o quilombo construiu os elementos de sua cultura em contato com a realidade de vida no Amapá, na relação com os indígenas e com a condição de fronteira que os liga a comunidades negras da Guiana Francesa (crioulos). Já em sua terceira geração, a comunidade quilombola cresce e busca se fortalecer pelos laços de parentesco e organização religiosa, bem como pela ligação com o seu território.

* Considerada a "mãe das árvores" ou, simplesmente, samaumeira, é uma das mais emblemáticas árvores de toda a Amazônia. Considerada uma das árvores mais altas da região, em ambiente natural, a sumaúma pode atingir até 70 metros de altura e seu tronco, até 3 metros de diâmetro. As suas grandes raízes de sustentação, chamadas de "sapopemas", segundo dizem os índios que habitam as matas, ressoam a longas distâncias um som grave, quando batidas com pequenos pedaços de pau, sendo usado pelos povos das florestas como uma forma de comunicação rudimentar.
** Nossa equipe contou com a hospitalidade de Pai Benedito durante os dias da pesquisa de campo. O quarto é mobiliado com duas camas de casal e vários ganchos de redes.
*** Melquíades Júnior, Casa de taipa expressa cultura. Diário do Nordeste, publicado em 05/04/2010. Disponível em http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=762717 Acesso 13/12/2013.